Uma investigação internacional apontou fraude em 11 artigos
científicos de um respeitado professor titular de química da Unicamp
(Universidade Estadual de Campinas).
Tudo indica que se trata da denúncia mais séria de má conduta
científica da história da ciência brasileira, apesar da escassez de
levantamentos sobre o tema. Em geral, os casos envolvem plágio, e não
invenção de resultados.
Os trabalhos que conteriam fraude saíram em várias revistas
científicas da Elsevier, multinacional que é a maior editora de
periódicos acadêmicos do mundo.
Os estudos da Unicamp foram retratados (ou seja, “despublicados”, não
tendo mais validade para a comunidade científica). A Elsevier afirmou
que os sinais de manipulação são “conclusivos”.
Claudio Airoldi, de 68 anos, é um dos pesquisadores mais experientes da Unicamp: está na universidade paulista desde 1968.
NO TOPO
Na classificação do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico, principal órgão federal a financiar ciência no
país), ele é bolsista de produtividade nível 1A, o mais elevado, e
membro da Academia Brasileira de Ciências. É o associado nº 17 da
Sociedade Brasileira de Química.
Airoldi teria falsificado imagens de ressonância magnética que servem
para estudar características de novas moléculas. Um dos artigos dizia
que uma delas, por exemplo, tinha uma estrutura que serviria para
absorver metais tóxicos da água.
Os trabalhos foram publicados entre 2008 e 2010 em colaboração com um
aluno de pós-graduação, Denis Guerra, hoje professor adjunto na
Universidade Federal de Mato Grosso.
A Elsevier diz que o procedimento de investigação envolveu três
cientistas revisores independentes, e que todos eles concluíram que
“estava claro que os resultados tinham sido manipulados”. A editora diz
ter pedido e recebido uma defesa dos cientistas brasileiros, mas,
segundo ela, o material enviado não prova nada.
“Estava previsto que algo assim ia acontecer. Ia ser muito difícil
segurar isso porque a pressão para publicar é muito grande e existe
leniência em relação a esse comportamento”, diz Sílvio Salinas, físico
da USP que segue de perto os casos de má conduta científica no país.
De fato, diferentemente dos Estados Unidos, que contam com uma
agência federal para investigar casos assim, o Brasil deixa o
acompanhamento dos casos e possíveis punições nas mãos das instituições
onde ocorrem.
Não existem estatísticas consolidadas sobre o tema por aqui. Mas, num
clima de competição científica acirrada e globalizada, com
pesquisadores cada vez mais pressionados para mostrar sua produção em
números, mais casos são esperados.
Nos próprios EUA, em 16 anos as fraudes científicas cresceram 161%.
Em países como China e Brasil, onde a publicação bruta de artigos
científicos tem crescido muito sem que a qualidade acompanhe esse ritmo,
o fenômeno deve aparecer mais.
“As universidades e as agências de fomento precisam tomar
providências quanto a isso. Nunca tinha tido conhecimento sobre algo
dessa dimensão no Brasil. A ordem de grandeza é similar a casos de
fraude que ocorrem na China”, diz Salinas.
A Unicamp instaurou uma sindicância interna para apurar o caso. Segundo a universidade, ela deve ser concluída em 30 dias.
OUTRO LADO
Procurado pela Folha, Airoldi desligou o telefone
assim que a reportagem se apresentou, dizendo não ter tempo para falar.
Ele foi contatado também por e-mail, mas não respondeu até o fechamento
desta edição.
Guerra disse já ter entrado em contato com a Elsevier. “Mandamos toda
uma defesa dos trabalhos, apresentando provas de que as imagens são
verdadeiras, mas não recebemos nenhuma posição.”
Ele diz que a retratação da Elsevier “incomoda seriamente”. “Pode
acontecer de você nunca mais conseguir publicar um trabalho. Um editor
vê uma coisa dessas e vai pensar o quê? Somos do Terceiro Mundo, a
verdade é essa, sem dúvida nenhuma contra pesquisadores do Primeiro
Mundo a crítica teria uma peso menor.”
(Folha Online via Diálogos Políticos)
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