Um estudo da Universidade de Michigan, nos EUA, deu um passo importante para livrar diabéticos do ritual incômodo de picar o dedo várias vezes por dia para medir os níveis de glicose no sangue. A alternativa: lágrimas.
Ocorre que, segundo a equipe liderada por Mark Meyerhoff, o fluido das lágrimas -que não aparece apenas quando as pessoas choram, mas está presente com frequência como lubrificante dos olhos- também reflete o conteúdo de glicose do organismo, podendo ser examinado de forma confiável.
Em artigo na revista científica "Analytical Chemistry", Meyerhoff e companhia descrevem a criação de um sistema relativamente simples, envolvendo componentes comuns na indústria eletrônica, para medir os níveis de glicose nas lágrimas.
Os testes foram feitos com coelhos, revelando que o sensor dos pesquisadores é capaz de detectar os níveis da molécula de açúcar em amostras de apenas 5 microlitros de fluido lacrimal.
É um volume, de fato, muito pequeno, pouco mais de um milionésimo do encontrado numa garrafa d´água de 1 litro, por exemplo.
SENSIBILIDADE
Esse era justamente um dos problemas para colocar em prática a medição alternativa de glicose: como aumentar a sensibilidade.
Fala-se em substituir sangue por lágrimas desde os anos 1950. A questão é que, quando os cientistas foram comparar o metabolismo do sangue com o das lágrimas, viram que a presença de glicose nessas últimas era muito menor -entre 1/30 e 1/50 da quantidade encontrada na corrente sanguínea.
Também não estava claro se a correlação entre açúcar no sangue e no fluido lacrimal era confiável. Se as flutuações fossem grandes demais, com níveis altos nas lágrimas não necessariamente associados a níveis elevados no sangue, um teste desse tipo seria inútil.
Os pesquisadores de Michigan levaram em conta todas essas dúvidas no teste com 12 coelhos -todos devidamente anestesiados e imobilizados, porque era preciso comparar os exames de sangue com os de lágrimas.
As amostras lacrimais eram recolhidas num tubinho de apenas 0,84 milímetro de diâmetro. O sensor desenvolvido pelos cientistas é mergulhado dentro do fluido.
Para detectar com precisão a quantidade de glicose na amostra, o sensor usa uma enzima (proteína que acelera reações químicas) que degrada o açúcar. A sobra da reação gera um sinal elétrico cuja intensidade diz quanta glicose está presente ali.
Graças a outros componentes do sensor que o ajudam a "ignorar" a presença de outras moléculas das lágrimas, que poderiam ser confundidas com a glicose, o sistema tem bom grau de precisão.
Os dados obtidos com os coelhos também mostraram que há uma correlação forte entre níveis de glicose no sangue e nas lágrimas.
O que acontece é que a correlação muda um pouco de indivíduo para indivíduo. Por isso, talvez seja necessária uma calibragem fazendo um exame inicial de sangue antes de partir para testes com o fluido das lágrimas.
A equipe, agora, pretende melhorar ainda mais a sensibilidade do teste para poder empregá-lo em pessoas.
Fonte: FOLHA DE SÃO PAULO – SP, via
Consulfarma