Plaquetas e artrite tradicionalmente não são relacionadas nos livros médicos e na literatura científica. Um artigo publicado na
Science, porém, relata que micropartículas plaquetárias, vesículas liberadas por plaquetas ativadas, estão presentes em grande quantidade no líquido sinovial de articulações inflamadas e participam ativamente no desenvolvimento da artrite inflamatória. Usando modelos animais, os autores mostraram como as plaquetas são ativadas por colágeno (via glicoproteína VI, um receptor na superfície plaquetária) e por células sinoviais semelhantes a fibroblastos, deflagrando a liberação de micropartículas. Estas últimas vão induzir a liberação de vários mediadores inflamatórios, através da IL-1 presente nas micropartículas. Em seguida, células inflamatórias ativadas são atraídas pelos mediadores inflamatórios, iniciando o "fogo" da inflamação. Já se sabia que as plaquetas talvez tivessem algum papel na artrite: elas acumulam-se em articulações inflamadas e número elevado de plaquetas no líquido sinovial e de micropartículas na circulação já haviam sido observados em pacientes com artrite reumatóide, mas não se havia feito uma relação causal. A biologia plaquetária vem sendo revista ultimamente e, de passivas participantes em eventos vasculares elas estão passando a ativas personagens de fenômenos inflamatórios e eventos extravasculares. Um número cada vez maior de evidências apontam para o papel imunomodulatório das micropartículas plaquetárias. Sua relação próxima com células inflamatórias, como neutrófilos, faz com que estes possam "contrabandear" micropartículas aderidas em sua superfície para o interior das articulações, amplificando a resposta inflamatória que leva finalmente à artrite.